terça-feira, 7 de abril de 2009

Tecnologia x Ética



dngdgngEm 1938, foi descoberto o processo de fissão nuclear. Muito bem. Em 1969, durante a Guerra Fria, aconteceu a primeira ida do homem a Lua. Ótimo. Ano passado, todos vimos as pesquisas com células-tronco serem aprovadas pelo Congresso brasileiro. Até aí, maravilha. Mas claro, todos sabemos que a ciência nunca pára e nem descansa. Mesmo porque, este mundo em que vivemos nunca pára de nos surpreender com todas as suas possibilidades. É como aquele velho e abatido raciocínio sofista: “quanto mais queijo, mais buracos, logo quanto mais queijo, menos queijo”. Quanto mais conhecimento obtemos, mais lacunas aparecem, e mais dúvidas surgem. E naturalmente, a curiosidade humana não deixa por menos. Só que o problema não está em ser curioso e querer obter respostas. O problema está em tomar atitudes sem ao menos obtê-las.
bdbzdfdzA tecnologia certamente facilita nossa vida em espantosa proporção. E ela está tão bem infiltrada em nosso cotidiano, que nem mais percebemo-la como algo de extraordinário. A lâmpada, que seria uma maravilha no século XIX, ou o celular, que seria considerado bruxaria na Idade Média, é hoje algo tão comum quanto o ar ou a água. Isto tudo é bom, pode-se até dizer que em certo ponto, foi necessária a criação de tais objetos. Mas atualmente, no século XXI, a ciência e tecnologia parecem que deram um pulo enorme dos objetos necessários ao cotidiano para processos delicadíssimos, e nem sempre, éticos. Um exemplo bem atual são as novas pesquisas que visam “criar” bebês geneticamente selecionados, ou seja, bebês pensados e arquitetados pelos seus pais. Os pais escolhem a cor dos olhos, o sexo e ainda, se quiserem, podem adicionar músculos aos seus filhos. Outro exemplo, é a criação de um tipo de televisão capaz de mandar ondas neuro-cerebrais para seus telespectadores, podendo despertar sentidos como o olfato. Estas são descobertas sem dúvida muito avançadas, mas que também podem ser muito bem questionadas. Digo isto, porque acredito que a tecnologia está avançando assustadoramente rápido nos últimos anos. A tecnologia sim, os seres humanos, não. Na verdade, parece que conosco o que está acontecendo é o contrário: estamos em fase de retrocesso. Retrocesso moral, claro.
brgerhehTodos os dias, tirando as tragédias, presenciamos situações absurdas serem consideradas como “normais”. Não vou nem citar como exemplo os assaltos, porque já virou clichê. Talvez, deva citar nossas atitudes robóticas e pré-programadas. Ou ainda nossa falta de senso crítico. Mas não irei fazê-lo, para não prolongar esta discussão. O fato é que, nossa razão que era o fator essencial que nos diferenciava dos outros animais, está por um fio. Eu não vejo razão, por exemplo, em alguém que mata por algumas cédulas de papel. Também não vejo razão em pessoas que se humilham na frente de um país inteiro para ganhar um prêmio. Não, não vejo razão nessas lástimas. Então, o que estamos nos tornando? Animais irracionais? Seres que fingem ser a civilização quando na verdade somos a ruína da mesma? Ou estamos apenas desorientados com a quantidade de informação que recebemos no dia-a-dia? É uma possibilidade. Quem sabe, até relevante. Mas não é justificativa para atos tenebrosos. Talvez o instinto de sobrevivência que aparentemente tínhamos perdido com o tempo, voltou agora com toda a força. Simplesmente porque nossos centros urbanos não se diferenciam muito do que chamamos de selva. Aliás, não se diferencia grande coisa. Então, naturalmente, o leitor percebe a contradição: “mas se você acabou de falar que nossa tecnologia está nas alturas, como pode afirmar que estamos em fase de retrocesso moral?”. A resposta a esta pergunta é bem simples: estamos sim, adiantados na tecnologia. Sabemos planejá-la, sabemos criá-la. Mas sabemos usá-la? Sim? Bom, irei lembrar ao leitor um fato: 1938, descoberto o processo de fissão nuclear, já citado. Sete anos depois, o desastre de Hiroshima e Nagasaki. O que quero dizer é: temos maturidade para usar o que criamos? Somos capazes de conhecer nossos limites? São perguntas que venho fazendo. E é bem interessante ver a resposta a esta pergunta em meu dia-a-dia quando, por exemplo, eu vejo uma ferramenta virtual que deveria ser utilizada para que tivéssemos nosso espaço de divulgação na internet, sendo usada para humilhar e às vezes até ridicularizar desgraças alheias. É talvez até frustrante saber que não se pode mais cair ao chão ou escorregar tranqüilo em uma poça d’água, sem que no outro dia o seu incidente esteja sendo visto como piada em todo o mundo. Mas este é apenas o menor dos problemas. Eu fico imaginando o que poderia ser feito com uma televisão capaz de influenciar o nosso cérebro. Talvez aí o estrago fosse bem maior.
bsfbsfbsA verdade é que a ética e a tecnologia são como uma criança ingênua e um adulto vivido. A criança olha de baixo, tímida e inferior, porém em fase de desenvolvimento moral, para o adulto. O adulto, olha a criança de cima, robusto e superior, mas com a moralidade perdida. A ética é uma criança em desenvolvimento (ou talvez um Benjamin Button vivendo ao contrário) e a tecnologia, o adulto que não questiona os seus atos e se acha auto-suficiente quando na verdade não o é. Para que continuemos avançando no mesmo ritmo, ou até em um ritmo superior, é preciso que nossa consciência avance também. É preciso que saibamos utilizar com responsabilidade as ferramentas que temos nas mãos. Precisamos saber que a ética vem antes e a tecnologia, depois. Precisamos de reflexão. De pensar e filosofar mais. Ou fazemos isto, ou nadaremos como cegos. Em um mar de tubarões.